Miguel Nicolelis, um dos principais expoentes dos estudos do cérebro, acredita que a ligação entre a tecnologia e a mente é indispensável para a solução de problemas em ambas as áreas. “Estamos investigando o sistema nervoso como uma forma distribuída e, com isso, estamos aprendendo o que acontece quando colocamos milhões ou bilhões de elementos trabalhando juntos. É uma ciência completamente nova e os computadores, muito inferiores na capacidade de analisar e entender contextos, só têm a aprender com a mente”, diz o fundador do Instituto de Neurociência que funciona desde 2005 em Natal, no Rio Grande do Norte, e que repatriou diversos pesquisadores brasileiros.
O brasileiro é um dos principais nomes de um projeto global chamado Walk Again, que une pesquisadores para construir uma espécie de exoesqueleto para humanos, nos moldes daquele dos besouros. Ligando a mente diretamente a um “terno” robótico (já em desenvolvimento), seria possível trazer movimentos de volta às pernas e aos braços de pessoas paralisadas, que controlariam a estrutura com pensamentos.
Eleito um dos 20 cientistas mais importantes do mundo pela revista Scientific American, Nicolelis é considerado o número 1 em sua especialidade, a neurobiologia, e seu maior projeto é conectar mente e robótica para fazer que quadriplégicos voltem a andar.
O pano de fundo desse experimento é a idéia de que, se fizermos com que um chip – ou uma ‘neuroprótese’ – capte os sinais da mente e transmita-os para um membro artificial em 200 milissegundos (que é o tempo em que um braço biológico responde aos impulsos), o cérebro entenderá aquela prótese mecanizada como uma parte do corpo.
“Já publicamos um trabalho mostrando a devolução do sinal de um computador diretamente para o cérebro humano”, afirma Nicolelis. “É como um tenista com uma raquete. Como ele a usa sempre, aquela ferramenta é assimilada como uma extensão do corpo. Com a interface cérebro-máquina, isso já está ocorrendo, pois alguns experimentos dizem que o corpo pode se acostumar de forma mais rápida do que nesse exemplo que eu dou, pois há uma ligação direta entre os estímulos neurais e o robô”, explica o médico, que hoje busca adaptar seus projetos para o uso clínico.
“Não há máquina que tenha visão crítica e ativa da realidade, que generalize e entenda contextos. A nova computação deve evoluir imitando o cérebro”, decreta Miguel Nicolelis. O futuro da tecnologia artificial é se tornar um pouco mais humana.
As máquinas, ao simular situações pelas quais o cérebro passa, cujo tema faz parte fundamental da nova neurociência que, apesar de já mostrar resultados, ainda dá os seus primeiros passos na compreensão total da mente. Por isso, em 2010, o chamado “Campus do Cérebro” idealizado por Nicolelis receberá um supercomputador Blue Gene/L, capaz de fazer 42 trilhões de operações por segundo – uma doação da Universidade de Lausanne, na Suíça. “Acho que, com essa união entre computação e cérebro, só temos a evoluir”, finaliza.
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
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